quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os Pilares da Educação de Paulo Freire

Paulo Freire é considerado um ícone do pensamento educacional tanto no Brasil quanto no exterior. O teórico destaca a importância do diálogo e dos saberes para as práticas educativas, concebendo a educação como um ato de pensar crítico sobre a realidade dos homens. Através dos cinco pilares da educação (amor, humildade, fé nos homens, esperança e o pensar crítico), estabelecidos por Freire, é possível refletir sobre nossas práticas educacionais, problematizando-as e pensando em ações que possam nos auxiliar no aprimoramento das mesmas. Analisando estes pilares dentro do contexto da EaD, buscar-se-á refletir sobre como se dá esse diálogo no ambiente virtual de aprendizagem. O primeiro pilar é o “amor”, e este é de fundamental importância para o estabelecimento do diálogo entre o educador e o educando. Quando se tem este sentimento de amor ao mundo e ao próximo, a ação profissional fica muito mais fácil e gratificante. É importante ressaltar que, como afirma Paulo Freire, o amor se contrapõe à dominação, esta que muitas vezes teima em imperar no ambiente educacional por parte dos professores. Na EaD pode parecer mais difícil a aplicação deste primeiro pilar, devido às poucas aulas presenciais, porém os laços que são criados virtualmente também possibilitam a existência do “amor” entre alunos e tutores. O segundo pilar é a “humildade”. Este também apresenta uma grande importância no que concerne ao bom diálogo na educação. Afinal, como pode haver diálogo se o professor/tutor se mostra arrogante e superior? Este pilar no ensino à distância se aplica quando o tutor se disponibiliza, por exemplo, a conversar e a tirar as dúvidas de seus alunos, deixando-os à vontade e seguros. Ninguém é detentor de todo o conhecimento, portanto, o educador precisa estar ciente de que ensinar também é aprender. Assim, através da humildade, o processo de ensino e aprendizagem acontece com uma maior fluidez. Chegando ao terceiro pilar, temos “fé nos homens”. Este já se explica por si só. É impossível estabelecer um diálogo com seus alunos se você não acredita no potencial que eles têm. Na EaD, este pilar é essencial, pois esta modalidade de ensino é vista por muitos como inferior e irrelevante, então os alunos costumam se sentir desprivilegiados devido ao preconceito que circunda o ensino a distância, assim, cabe aos tutores deixarem claro para seus alunos que eles não são inferiores e mostrar para eles que tem fé nas suas capacidades. A “esperança” é o quarto pilar. É interessante a seguinte citação: “Não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero.” Realmente, a prática educacional necessita de uma boa dose de esperança, pois diante de tantas problemáticas que são enfrentadas diariamente, este pilar tem a função de fortalecer os que estão desanimados, fazendo-os acreditar nas melhorias e lutar por elas. Sem esperança é difícil manter um diálogo no âmbito da educação. Por fim, tem-se o quinto pilar que é o “pensar crítico”. Este pilar é o responsável pelo estabelecimento da reflexão nas práticas educacionais, ou seja, o professor/tutor precisa despertar em seus alunos um pensamento crítico, ensinando-os a não aceitarem tudo que lhes é apresentado sem questionarem. Cidadãos pensantes são aqueles que refletem sobre o mundo ao seu redor, sendo capazes de reivindicar quando não concordam com algo. Os alunos da EaD também precisam sair dos “muros do ambiente virtual” e compartilhar deste quinto pilar. Muitos alunos da Educação a distância se acomodam somente com os textos e materiais que lhes são disponibilizados no ambiente virtual e deixam de pesquisar em outras fontes, limitando, assim, a sua reflexão e o seu pensar crítico. Para evitar isso, fica a cargo dos tutores estimularem seus alunos a uma pesquisa mais abrangente e a uma maior criticidade. Vistos sinteticamente os cinco pilares da educação de Paulo Freire, foi possível perceber que eles se aplicam indiscutivelmente às práticas da Educação a Distância. O diálogo no ambiente virtual também precisa estar pautado no amor, na humildade, na fé nos homens, na esperança e no pensar crítico para que possa haver uma boa interação entre os sujeitos que compõem as práticas pedagógicas (professor e aluno), facilitando e dando sentido ao processo de ensino e aprendizagem. Kedma J. F. Damasceno

DIÁRIO DE BORDO – Aula III

Conheci Paulo Freire e sua Pedagogia do oprimido na graduação em Letras, antes de começar a dar aulas. A identificação entre os cinco pilares da educação e as minhas concepções acerca da profissão docente foi imediata. Iniciando minha atividade docente, percebi o quanto seria difícil colocá-los em prática em uma sociedade em que o amor, a humildade, a fé nos homens, a esperança e o pensar crítico estão cada dia mais escassos. O discurso que continua prevalecendo nas salas de aula é o da imposição de respeito pelo medo, da supremacia do saber acadêmico, da educação bancária, da unilateralidade do conhecimento. Minha primeira experiência foi como professora de um laboratório de redação em uma instituição de ensino privada. Quando se trata de escolas dessa natureza, salvo raras exceções, a conduta esperada por parte do professor é exatamente a tradicional e produtivista. Embora em meio às dificuldades, resisti contra tal postura, buscando sempre o diálogo franco e aberto, sem qualquer espécie de dominação, com humildade e disposição de compartilhar o que sei e de aprender, com meus alunos, o que ainda não conheço. Minha preocupação era com o desenvolvimento da percepção deles acerca do mundo, a fim de constituírem um pensar crítico e solidário, marcado pela minha fé nos homens e pela esperança de se construir uma sociedade mais justa. Os temas abordados em minhas propostas de redação proporcionavam sempre reflexões dos problemas sociais. Ao ingressar na Rede Pública de Ensino, mantive minha postura e meu compromisso, visando o objetivo citado. Percebi o quanto nossa classe ainda conta com profissionais distantes dessa visão, adeptos da dominação, sem enxergarem que eles mesmos sofrem as consequências de não levarem em conta os cinco pilares de Paulo Freire. Sem afeto, não há interesse por parte dos alunos, consequentemente, não há aprendizado nem a formação de um sujeito capaz de buscar uma sociedade verdadeiramente igualitária ou menos desigual. Muitos de meus colegas reclamam de seus salários, mas, infelizmente, perpetuam, por meio de sua postura em sala, o sistema que lhes impõe tamanha arbitrariedade. Nesse ponto, ganha notoriedade a nossa responsabilidade, como professores da UFC Virtual, na formação de docentes cuja postura seja coerente com uma renovação social e política da qual necessitamos, e a melhor forma de repassar aos nossos futuros professores esses valores é por meio do exemplo. Sejamos, portanto, exemplo de humildade, amor, fé nos homens e de esperança numa sociedade justa, por meio da aproximação, da tolerância e do respeito aos nossos alunos. Renata Aguiar Nunes